– Capítulo VI –
Da lei de destruição
1 Destruição necessária e destruição abusiva. 2 Flagelos destruidores. 3 Guerras. 4 Assassínio. 5 Crueldade. 6 Duelo. 7 Pena de morte.
- 1 Destruição necessária e destruição abusiva
Preciso é que tudo se destrua para renascer e se regenerar. O que chamamos de destruição não passa de uma transformação, que tem por fim a renovação e melhoria dos seres vivos. Para se alimentarem, os seres vivos reciprocamente se destróem, destruição esta que obedece a um duplo fim: manutenção do equilíbrio na reprodução, que poderia tornar-se excessiva, e utilização dos despojos do invólucro exterior que sofre a destruição e que não é parte essencial do ser pensante. A Natureza cerca os seres de meios de preservação e de conservação a fim de que a destruição não se dê antes do tempo. Toda destruição antecipada obsta ao desenvolvimento do princípio inteligente. Por isso foi que Deus fez que cada ser experimentasse a necessidade de viver e de se reproduzir. Ao lado dos meios de conservação, a Natureza colocou os agentes de destruição para manter o equilíbrio e servir de contrapeso. A necessidade de destruição não é idêntica em todos os mundos: guarda proporções com o estado mais ou menos material desses mundos. Cessa, quando o físico e o moral se acham mais depurados. Entre os homens da Terra, a necessidade de destruição se enfraquece à medida que o Espírito sobrepuja a matéria. Assim é que, como se observa, o horror à destruição cresce com o seu desenvolvimento intelectual e moral. Em seu estado atual, o direito de destruição se acha regulado pela necessidade que tem o homem de prover ao seu sustento e à sua segurança. O abuso jamais constitui direito. Toda destruição que excede os limites da necessidade é uma violação da lei de Deus. Os animais só destróem para satisfação de suas necessidades, enquanto que o homem, dotado de livre-arbítrio, o faz sem necessidade. Terá que prestar contas do abuso da liberdade que lhe foi concedida, pois isso significa que cede aos maus instintos.
- 2 Flagelos destruidores
Deus fere a humanidade por meio de flagelos destruidores para fazê-la progredir mais depressa; emprega também outros meios, mas o homem não aproveita desses meios, daí ser preciso castigar o seu orgulho e fazê-lo sentir a fraqueza. A vida terrena pouco representa com relação à vida espiritual; por isso, pouca importância têm para o Espírito os flagelos destruidores, sob o ponto de vista do sofrimento. Por ocasião das grandes calamidades que dizimam os homens, o espetáculo é semelhante ao de um exército, cujos soldados, durante a guerra, ficassem com os seus uniformes estragados, rotos, ou perdidos.
O general se preocupa mais com seus soldados do que com os uniformes deles.
- 3 Guerras
O que impele o homem à guerra é a predominância da natureza animal sobre a natureza espiritual e trasbordamento das paixões. À medida que ele progride, menos freqüente se torna a guerra. Quando os homens compreenderem a justiça e praticarem a lei de Deus, a guerra desaparecerá da face da Terra. Grande culpado é aquele que suscita a guerra, e muitas existências lhe serão necessárias para expiar todos os assassínios de que haja sido causa, porquanto responderá por todos os homens cuja morte tenha causado para satisfazer à sua ambição.
- 4 Assassínio
Aos olhos de Deus, é grande crime o assassínio, pois que aquele que tira a vida ao seu semelhante corta o fio de uma existência de expiação ou de missão. Só a necessidade de legítima defesa o pode escusar da responsabilidade. Mas, desde que o agredido possa preservar a sua vida, sem atentar contra a de seu agressor, deve fazê-lo. Também será escusado no caso de constrangimento pela força, como na guerra, mas será culpado das crueldades que cometa, sendo-lhe também levado em conta o sentimento de humanidade com que proceda.
- 5 Crueldade
A crueldade é o instinto de destruição no que tem de pior, porquanto, se, algumas vezes, a destruição constitui uma necessidade, com a crueldade jamais se dá o mesmo. Ela resulta sempre de uma natureza má, a crueldade forma o caráter predominante dos povos primitivos, porquanto nestes a matéria prepondera sobre o Espírito. A crueldade se encontra também no seio da mais adiantada civilização, do mesmo modo que numa árvore carregada de bons frutos se encontram verdadeiros abortos, pois Espíritos de ordem inferior podem encarnar entre homens adiantados, na esperança de também se adiantarem. Mas, desde que a prova é por demais pesada, predomina a natureza primitiva. Entretanto, como a humanidade progride, um dia esses homens desaparecerão, como o mau grão se separa do bom, quando este é joeirado. Mas desaparecerão para renascer sob outros invólucros.
- 6 Duelo
O duelo não pode ser considerado como legítima defesa; é um assassínio e um costume absurdo, digno dos bárbaros, e aquele que o praticar, conhecendo a sua própria fraqueza, será considerado um suicida. O que se chama ponto de honra, em matéria de duelo não passa de orgulho e vaidade.
- 7 Pena de morte
Um dia, quando os homens estiverem mais esclarecidos, desaparecerá da face da Terra a pena de morte. Há outros meios de se preservar do perigo, que não matando. Demais, é preciso abrir e não fechar ao criminoso a porta do arrependimento. Jesus disse: "Quem matar com a espada, pela espada perecerá". Com efeito, a pena de talião é a justiça de Deus. É ele quem a aplica. Todos nós sofremos essa pena a cada instante, pois que somos punidos naquilo em que houvermos pecado, nesta existência ou em outra. Aquele que foi a causa do sofrimento para seus semelhantes virá achar-se numa condição em que sofrerá o que tenha feito sofrer. Este o sentido das palavras de Jesus. A pena de morte é um crime, quando aplicada em nome de Deus, e os que a impõem se sobrecarregam de outros tantos assassínios.
Nenhum comentário:
Postar um comentário