– Capítulo V –
Lei de conservação
1 Instinto de conservação. 2 Meios de conservação. 3 Gozo dos bens terrenos. 4 Necessário e supérfluo. 5 Privações voluntárias. Mortificações.
- 1 Instinto e conservação
Todos os seres vivos possuem o instinto de conservação, seja qual for o grau de sua inteligência. Nuns, é puramente maquinal, racionado em outros. Todos os seres têm que concorrer para o cumprimento dos desígnios da Providência, daí porque Deus lhes outorgou o instinto de conservação. Acresce que a vida é necessária ao aperfeiçoamento dos seres. Eles o sentem instintivamente, sem disso se aperceberem.
- 2 Meios de conservação
Tendo dado ao homem a necessidade de viver, Deus lhe facultou, em todos os tempos, os meios de o conseguir. Essa a razão porque faz que a Terra produza de modo a proporcionar o necessário aos que a habitam, visto que só o necessário é útil. A Terra produziria sempre o necessário, se com o necessário soubesse o homem contentar-se. Se o que ela produz não lhe basta a todas as necessidades, é que ele emprega no supérfluo o que poderia ser aplicado no necessário. O solo é a fonte primacial donde dimanam todos os outros recursos, pois que, em definitivo, estes recursos são simples transformações dos produtos do solo. Se a uns faltam os meios de subsistência, ainda quando os cerca a abundância, deve-se atribuir isso ao egoísmo dos homens, que nem sempre fazem o que lhes cumpre. Depois, e as mais das vezes, devem-no a si mesmos. Buscai e achareis, estas palavras não querem dizer que, para achar o que deseje, basta que o homem olhe para a Terra, mas que lhe é preciso procurá-lo, não com indolência, e sim com ardor e perseverança, sem desanimar ante os obstáculos, que muito amiúde são simples meios de que se utiliza a Providência para lhe experimentar a constância, a paciência e a firmeza.
Nos mundos de mais apurada organização, os seres vivos também têm a necessidade de alimentar-se, porém seus alimentos estão em relação com a sua natureza. Tais alimentos não seriam bastante substanciosos para os nossos estômagos grosseiros; assim como os deles não poderiam digerir os nossos alimentos.
- 3 Gozo dos bens terrenos
O uso dos bens terrenos é um direito de todos os homens. Deus não imporia um dever sem dar ao homem o meio de cumpri-lo. Pôs atrativos no gozo dos bens materiais, objetivando, assim, desenvolver-lhe a razão, que deve preservá-lo dos excessos.
O homem que procura nos excessos de todo gênero o requinte do gozo, coloca-se abaixo do bruto, pois que este sabe deter-se, quando satisfeita a sua necessidade.
- 4 Necessário e supérfluo
Aquele que é ponderado conhece o limite do necessário por intuição. Muitos só chegam a conhecê-lo por experiência e à sua própria custa. Por meio da organização que lhe deu, a Natureza traçou ao homem o limite das necessidades; porém, os vícios lhe alteraram a constituição e lhe criaram necessidades que não são reais. Os que açambarcam os bens da Terra para se locupletarem com o supérfluo, em prejuízo daqueles a quem falta o necessário, olvidam a lei de Deus e terão de responder pelas privações que houverem causado aos outros.
- 5 Privações voluntárias Mortificações
A lei da conservação obriga o homem a prover as necessidades do corpo, porque, sem força e saúde, impossível é o trabalho. É natural que o homem procure o bem-estar. Deus só proíbe o abuso, por ser contrário à conservação.
Há privações voluntárias que são meritórias, como a dos gozos inúteis, porque desprende da matéria o homem e lhe eleva a alma. Meritório é resistir à tentação que arrasta ao excesso ou ao gozo das coisas inúteis; é o homem tirar do que lhe é necessário para dar aos que carecem do bastante. A vida de mortificações ascéticas, se somente serve para quem a pratica e o impede de fazer o bem, é egoísmo, seja qual for o pretexto com que entendem de colori-la. Privar-se a si mesmo e trabalhar para os outros, tal a verdadeira mortificação, segundo a caridade cristã. Não é racional a abstenção de certos alimentos, pois, permitido é ao homem alimentar-se de tudo o que não lhe prejudique a saúde. Alguns legisladores, porém, com um fim útil, entenderam de interdizer o uso de certos alimentos e, para maior autoridade imprimirem às suas leis, apresentaram-nas como emanadas de Deus. A alimentação animal, com relação ao homem, não é contrária à lei da Natureza, pois, dada a sua constituição física, a carne alimenta a carne. A lei de conservação lhe prescreve, como um dever, que mantenha suas forças e saúde, para cumprir a lei do trabalho. Ele, pois, tem que se alimentar conforme o reclame sua organização.
Os sofrimentos naturais são os únicos que elevam o homem, porque vêm de Deus. Os sofrimentos voluntários de nada servem, quando não concorrem para o bem de outrem. Não se adiantam no caminho do progresso os que abreviam a vida, mediante rigores sobre-humanos, como o fazem os bonzos, os faquires e alguns fanáticos de muitas seitas. Sofrer alguém, voluntariamente, apenas por seu próprio bem, é egoísmo; sofrer pelos outros é caridade: tais os preceitos.
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