– Capítulo XI –
Da lei de justiça, de amor e de caridade
1 Justiça e direitos naturais. 2 Direito de propriedade. Roubo. 3 Caridade e amor do próximo. 4 Amor materno e filial.
O sentimento de justiça está na natureza, porém, é fora de dúvida que o progresso moral desenvolve esse sentimento, mas não o dá, pois Deus o pôs no coração do homem. Daí vem que, freqüentemente, em homens simples e incultos se nos deparam noções mais exatas da justiça do que nos que possuem grande cabedal de saber. Os homens entendem a justiça de modo diferente, porque a esse sentimento se misturam paixões que o alteram, fazendo que vejam as coisas por um prisma falso. A justiça consiste em cada um respeitar os direitos dos demais. Esses direitos são regulados por duas leis: a humana e a natural. Tendo os homens formulado leis apropriadas a seus costumes e caracteres, elas estabeleceram direitos mutáveis com o progresso das luzes. As leis naturais são reguladas pelas leis divinas, resumidas nesta sentença: "Queira cada um para os outros o que quereria para si mesmo".
Da necessidade que o homem tem de viver em sociedade, é que nascem-lhe obrigações especiais, e a primeira de todas é a de respeitar os direitos de seus semelhantes. Os direitos naturais são os mesmos para todos, desde os de condições mais humildes até os de posições mais elevadas. Esses direitos são eternos. Os que o homem estabeleceu perecem com as suas instituições.
O caráter do homem que pratica a justiça em toda a sua pureza é o do verdadeiro justo, a exemplo de Jesus, porquanto pratica também o amor ao próximo e a caridade, sem os quais não há verdadeira justiça.
O primeiro de todos os direitos naturais do homem é o de viver. Por isso é que ninguém tem o direito de atentar contra a vida de seu semelhante, nem de fazer o que quer que possa comprometer-lhe a existência corporal. O direito de viver dá ao homem o de acumular bens que lhe permitam repousar quando não mais possa trabalhar, mas ele deve fazê-lo em família, como a abelha, por meio de um trabalho honesto, e não como egoísta, e tem o direito de defender esses bens. Não deve, porém, exagerar o desejo de possuir, nem deve possuir para si somente e para sua satisfação pessoal. A propriedade legítima é aquela que foi adquirida sem prejuízo de outrem. Tudo o que se adquire legitimamente constitui uma propriedade, mas a legislação dos homens, porque imperfeita, consagra muitos direitos convencionais, que a lei de justiça reprova. Essa a razão porque eles reformam suas leis, à medida que o progresso se efetua e que melhor compreendem a justiça. O que num século parece perfeito, afigura-se bárbaro no século seguinte.
O verdadeiro sentido da palavra caridade é benevolência para com todos, indulgência para as imperfeições dos outros, perdão das ofensas.
O amor e a caridade são o complemento da lei de justiça, pois amar o próximo é fazer-lhe todo o bem que nos seja possível e que desejáramos nos fosse feito. Tal o sentido destas palavras de Jesus: "Amai-vos uns aos outros como irmãos". É certo que ninguém pode votar aos seus inimigos um amor terno e apaixonado. Não foi isso que Jesus entendeu de dizer. Amar os inimigos é perdoar-lhes e retribuir o mal com o bem. O que assim procede se torna superior aos seus inimigos, ao passo que abaixo deles se coloca se procura tomar vingança.
Uma sociedade que se baseia na lei de Deus e na justiça deve prover à vida do fraco, evitando que este peça esmola, pois, nesta condição, o homem se degrada física e moralmente: embrutece. Há homens que se vêem condenados a mendigar por culpa sua, mas, se uma boa educação moral lhes houvera ensinado a praticar a lei de Deus, não teriam caído nos excessos causadores da sua perdição. Disso, sobretudo, é que depende a melhoria do nosso planeta.
O amor materno é, não só uma virtude, como também um sentimento instintivo comum aos homens e aos animais. A natureza deu à mãe o amor a seus filhos no interesse da conservação deles. No animal, porém, esse amor se limita às necessidades materiais; cessa quando desnecessários se tornam os cuidados. No homem, persiste pela vida inteira e comporta um devotamento e uma abnegação que são virtudes. Sobrevive mesmo à morte e acompanha o filho até ao além-túmulo. Há, entretanto, mães que odeiam os filhos, mas isso decorre de uma prova que o Espírito filho escolheu, ou uma expiação, se aconteceu ter sido mau pai, ou mãe perversa, ou mau filho, noutra existência. Em todos os casos, a mãe má não pode deixar de ser animada por um mau Espírito que procura criar embaraços ao filho, a fim de que sucumba na prova que buscou. A missão dos pais é sublime e devem esforçar-se para encaminhar seus filhos para o bem. Demais, esses desgostos são, amiúde, a conseqüência do mau feitio que os pais deixaram que seus filhos tomassem desde o berço. Colhem o que semearam.
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